A presença da blogueira cubana Yoani Sanchez no Brasil trouxe ao
centro da discussão política a fração autoritária da esquerda
brasileira, que parecia relegada ao esquecimento. Não por coincidência,
junto com seus arroubos, essa franja política manifestou outra
característica do esquerdismo latino-americano da Guerra Fria, a
ingenuidade. Manifestantes tentaram fazer com que Yoani assinasse um
manifesto pelo fim do embargo norte-americano a Cuba e alardearam o fato
de ela não ter corroborado o que dizia o documento. O esforço é inútil.
Apenas uma profunda incompreensão da realidade pode explicar o fato de
pessoas acreditarem que protestos ou abaixo-assinados farão o boicote
ser derrubado.
Entre os poucos consensos da comunidade internacional, a avaliação de
que o embargo norte-americano a Cuba é uma atrocidade se destaca. Desde
1991, a Assembleia Geral das Nações Unidas condena anualmente o
boicote. Em 2012, a resolução recebeu 188 dos 193 votos (apenas EUA,
Israel e Palau foram contra). Projetos condenando os massacres na Síria e
os abusos de direitos humanos na Coreia do Norte, por exemplo, não
chegam nem perto de obter tantos votos. Ocorre que pressões
internacionais não funcionam para fazer o governo norte-americano, o
mais poderoso do mundo, mudar de opinião.
O embargo a Cuba, ainda que cause desgosto e indignação generalizadas
no mundo, é um assunto interno dos Estados Unidos. Instituído em 1962
pelo então presidente John Kennedy, o embargo é sustentado, desde 1992,
também por um ato do Congresso. Segundo esta legislação, o boicote só
poderá acabar quando Cuba realizar eleições livres e passar a tolerar a
oposição política, dois avanços ainda muito distantes. Para o Congresso e
a Casa Branca modificarem suas posições, seria necessária uma mudança
no clima político norte-americano. Ela já pode ser vislumbrada, mas
ainda está distante.
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