Cresci numa família onde meus pais tinham uma orientação política de direita.
Hoje isso é claro para mim. Sempre ouvi falar muito mal do Brizola. Das
memórias que tenho dessa época - infância e início da adolescência -
tanto por parte dos jornais, da TV e dos meus pais e amigos dos meus
pais, a impressão que eu tinha era que o Brizola era algo próximo do
Demônio, assim como suas ideias. "O cara que permitiu que o Rio de
janeiro se tornasse uma grande Favela, que defendia bandido e mais um
monte de afirmações que formavam uma imagem muito ruim desse homem."
Até hoje, mesmo depois de ter me aprofundado em política e estudado o
assunto, quando escuto o nome do Brizola, é impossível não me lembrar
daquele monte de marteladas que ouvi a seu respeito. É um trabalho
complexo na minha cabeça desconstruir aquela imagem. Quando conheci
Darcy Ribeiro e seu projeto de Educação para o Rio de janeiro, com os
CIEPS ou o Brizolão, que pretendia colocar as crianças em tempo integral
nas escolas, entendi que ali havia um projeto para o País. Investir nas
crianças, no tempo livre delas e em sua formação. O tempo passou e hoje vejo muitas pessoas dizendo que Brizola tinha razão.
Aquela geração que foi subestimada, que não recebeu educação de
qualidade, que não ficou em tempo integral nas escolas, cresceu, muitos
sem qualquer qualificação e teve filhos… O ciclo bizarro que se sustenta
e sustenta uma sociedade injusta socialmente e violenta. É
estranho pensar que projetos de governo que tem um viés voltado para os
mais pobres, para os mais humildes, para os que não recebem tanta
atenção, normalmente acabam sendo mais cedo ou mais tarde massacrados.
É essa confusão que me faz questionar por que rumos quero encaminhar
minha energia. Porque aquilo que diziam que era "populismo" naquela
época, hoje começa a ficar claro que era uma ação importante. Eu
precisaria fazer uma viagem no tempo e me aprofundar nas políticas
adotadas por Brizola, de uma forma geral, para saber se o que ele fez
para o Rio de janeiro foi bom ou ruim - pela MINHA ÓTICA E NÃO PELO QUE
ERA VENDIDO. Mas é um fato de que a sociedade Brasileira não tem o
hábito de buscar e investir em projetos a longo prazo e depois fica
querendo soluções imediatas. Há uma longa distância entre falar e fazer e nesse ponto os políticos são mestres e tem muito em comum. Falam mais que fazem.
Mas essa é uma história que vou procurar conhecer melhor, porque parece
que estou voltando a minha infância e ouvindo as mesmas coisas que
ouvia naquela época. Só que hoje tenho mais recursos para saber se
procedem ou se são mais uma tentativa de boicote a Justiça social que é
tão importante para que o Brasil possa crescer. Acho que é algo que quero compartilhar com vocês, até para que os mais velhos possam dar seu depoimento a respeito dessa fase. Quem tinha Razão afinal?
Fonte: Tico Santa Cruz
TEXTO: Luis Guilherme Brunetta Fontenelle de Araújo