As
manifestações politizadas do Papa tiveram pouca repercussão nas pautas
nobres da grande mídia. Mas e se ele tivesse defendido o liberalismo de
direita?
Tarso Genro*
Vamos
imaginar uma situação diferente da que aconteceu na semana passada, na
qual o Papa asseverou que o capitalismo é uma “ditadura sutil”, que a
concentração monopolista dos meios de comunicação impõe “pautas
alienantes” e gera um “colonialismo ideológico”, e supor o que ocorreria
se o Papa defendesse a redução das funções públicas do Estado, o
direito a monopolizar a formação da opinião, o mercado desregulado e o
império cultural dos países ricos sobre os países pobres. Convém notar,
em primeiro lugar, que as importantes manifestações do Papa tiveram
escassos reflexos nas pautas nobres da grande mídia, com exceção da
Folha de São Paulo, e só foram expandidas, como informação, pelas
“redes” alternativas de comunicação.
Creio
que se o Papa tivesse defendido as posições já conhecidas do
liberalismo de direita, teríamos o início de uma nova grande campanha
contra o setor público, contra os pressupostos de um Estado Social de
Direito e, certamente, um novo ciclo de propaganda dos “ajustes”, que
tem massacrado as camadas sociais mais pobres de todos os continentes.
Se o Papa tivesse adotado as posições já conhecidas da direita liberal,
teríamos um novo ciclo de lavagem cerebral, de natureza ideológica,
baseada num velho princípio que informou as saídas de crises, sob
governos comprometidos com os mais ricos: na hora de bonança e
crescimento concentremos renda, na hora de perdas e recessão
distribuímos os prejuízos para baixo.
*Tarso
Genro foi governador do Estado do Rio Grande do Sul, prefeito de Porto
Alegre, Ministro da Justiça, Ministro da Educação e Ministro das
Relações Institucionais do Brasil.
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